Minho
Olho para um rio emoldurado. Um rio que divide dois países. A moldura é estática, mas o quadro é vivo. O céu muda de cor e o rio corre, corre. Ou às vezes só flui devagar, mas não pára. Estática como sua moldura, só eu agora — pelo menos é como me sinto.
Também eu corria. Atravessei um oceano, fui e voltei de meia dúzia de países, mudei de cidade como quem troca de vaso aquela planta que precisa de espaço para crescer. Enquanto eu trocava de casa em busca de um espaço que não era um LUGAR de fato, em busca de vasos maiores em que pudesse plantar meus sonhos, meu verdadeiro lar crescia entre minhas costelas. Minha casa sou eu, afinal.
Eu corria. E correria mais agora, se pudesse. Quem dera poder correr todos os outros lugares que ainda não conheço, quem dera meus olhos se encherem de mundo como antes, quem dera ao menos poder voltar a atravessar o oceano em busca de um abraço conhecido. Eu correria agora, se pudesse, mas não posso. Ninguém no mundo agora pode, então aprendi a fluir devagar.
Olho para este rio emoldurado. Como ele, me divido entre dois países. Como ele, aceitei que há o tempo de correr, mas também há o tempo de fluir sem pressa. Continuo a fluir, sem parar e mais devagar do que gostaria, mas ah! Quem me dera poder correr…
Vista para o Rio Minho. Gondarém, abril de 2021.